cinema

Janelas e Woody Allen

15:21Guilherme Correa

Alguns filmes nos convencem de que aquela história, mostrada na tela, é nossa. A identificação com algum personagem ou situação é, provavelmente, o elo mais forte entre uma obra e o público. São sentimentos provocados que antecedem discussões, reflexões. "Medianeras", lançado em 2011, é um desses. Produção da Argentina, sempre ouvi e li sobre, mas só consegui assisti-lo agora. E que filme!


Digerir tanta nuance, da felicidade à tristeza, não é fácil. Encontrar-se no meio de tantas pessoas, de tantos barulhos, também não. O filme mostra de forma simples, mas muito bem arquitetada, a busca de válvulas de escape que ajudam os personagens a seguir em frente com mais leveza. São dois protagonistas e suas distintas histórias, que uma hora ou outra se cruzam. História que surgiu antes num curta do mesmo diretor e roteirista do filme, Gustavo Taretto.

Martín (Javier Drolas) vive trancado no apartamento. Uma crise do pânico fez com que ele criasse várias manias. Toma remédios, consulta o especialista, dá um passeio com o cachorro, só anda a pé, volta pra casa e vive, quase sempre, em seu mundinho. Mariana (Pilar López de Ayala) é arquiteta, no entanto não atua na área. Terminou um namoro e está vivendo sozinha, num apartamento pequeno, com vários manequins. Ela passa parte do dia arrumando vitrines e na companhia de homens e mulheres de mentira. Se Martín não anda de carro/ônibus/taxi, Mariana escolheu o elevador como inimigo.


Ao contrário do que dizem, aqui não são os opostos que se atraem. Martín e Mariana não se conhecem, mas tem muito em comum. Durante uma hora e meia, a vida deles se junta de maneiras peculiares - por meio de uma cadeira velha, uma esquina movimentada ou na aula de natação. Atores e personagens tão cativantes, que só resta ao espectador torcer para que eles, enfim, se esbarrem. E, claro, no meio do caminho, vamos analisando o quanto de Martín e Mariana cada um de nós temos.

O texto, muito rico em explicar como cada um deles é, mescla pessoal e impessoal. Traça perfis usando o psicológico e um prédio arquitetônico, por exemplo. As estações do ano também surtem efeitos maiores que apenas uma mudança climática. E como todo romance pós-evolução tecnológica, telefone e computadores ocupam quase o papel principal no relacionamento, seja pra unir ou destruir.


A trilha, que acompanha o dia a dia deles, é complemento. A fotografia retrata um dia de Sol ou um apagão com desafetação. O importante é manter o público embrenhado no cotidiano de duas pessoas, conectado com o que aparenta ser um limite entre ficção e realidade. Sim, é ficção. Mas vai dizer que você também não se pegou por aí procurando onde está seu/sua "Wally"?

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