cinema Corrente do Mal

Mais um

17:03Guilherme Correa

Parece história de terror oriental. Uma “maldição” é passada a uma jovem através do sexo. E daí ela começa a ser seguida por seres sobrenaturais. Pra se livrar deles, só fazendo sexo com outras pessoas. Não é piada, não é pornô, é o filme de suspense “It Follows” ou traduzido como “Corrente do Mal”. Li a sinopse, não acreditei, e só depois que vi o trailer senti uma curiosidade pra assisti-lo. E o filme não é ruim não. Também não é dos melhores.


Jay, a personagem amaldiçoada, interpretada por Maika Monroe, parece viver num mundo à parte. Tem jeito melancólico, num subúrbio apático, com filmes antigos passando na TV. A sensação é de que alguma coisa está errada, fora do lugar. Assim que Jay transa com o namorado, ela começa a ser perseguida e precisa estar sempre atenta e pronta pra fuga. Mas só quem tem a maldição é quem enxerga tais “fantasmas”. E assim acompanhamos a loucura que a vida da protagonista vira. Noites mal dormidas, pessoas desconhecidas que podem oferecer perigo e amigos que sofrem pra entender o que se passa.


“Corrente do Mal” tem fotografia que parece filtro hipster do Instagram, nenhuma novidade no cinema. A trilha com sintetizadores também não traz originalidade, além de surgir constantemente, gerando mais raiva do que agonia ou tensão. Os ângulos diferenciados, explorando as locações e cenários, até são um respiro de criatividade, já que não se apoiam somente em cenas fechadas, tentando um clima claustrofóbico explorado à exaustão no gênero. O melhor exemplo é a sequência em que Jay está na secretaria da escola e depois no carro com os amigos. É possível ver, lá longe, uma menina indo na direção dela. O problema é que, entre pontos positivos e negativos, temos um filme ok, mediano, sem mais ou menos, nem tão bom, nem tão ruim.

Associar maldição com crítica social - a exploração do sexo pelos jovens - pode ser uma alternativa pra entender melhor o roteiro. Enxergar na cidade abandonada uma citação indireta de crise também. Só que o enredo deixa muitas pontas soltas na proposta principal. Não fica claro se são fantasmas, mortos-vivos ou zumbis os perseguidores. Também não dá pra entender a cena em que uma das assombrações mata um jovem através de relações sexuais. E tudo fica ainda mais estranho quando uma das tais assombrações parece ser uma criança. Ela foi abusada? Ela mataria abusando outro humano? 


A cena da piscina lembra muito a de um dos filmes “Ringu” (conhecida aqui no país pelo remake de “O Chamado”), só que bem menos atraente. Dá até pra formar uma torcida contra a protagonista. Um filme não precisa ser tão direto, tão explícito. Mas precisa apresentar bem suas propostas. O que temos aqui é um mar de subjetividade, sem grandes resquícios de criatividade, tornando a “Corrente do Mal” em apenas mais um longa de suspense.

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