VocĆŖ tĆ” aĆ, lendo isso no seu celular ou no computador. Bem que pode ser numa televisĆ£o, mas com certeza vocĆŖ nĆ£o estĆ” sĆ³ lendo esse texto. Pode estar assistindo tambĆ©m outra coisa numa segunda aba, escutando mĆŗsica, teclando com outras pessoas. Hoje em dia Ć© assim: ser multitarefa online Ć© genĆ©tico. A capacidade de manter certa atenĆ§Ć£o em tantos detalhes ao mesmo tempo pode ser o trunfo de “Unfriended” – filme de terror artiguinho (2014 Ć© uma eternidade nĆ£o?) que AINDA nĆ£o foi lanƧado nos cinemas brasileiros.
Adianto que o filme nĆ£o Ć© nenhuma obra-prima, mas um terrorzinho legal. E o longa Ć© bacana por vĆ”rios motivos. Primeiro que ele Ć© um desktop movie. Tudo, ou quase tudo, o que vemos Ć© na verdade uma tela de computador. No caso, somos levados ao computador da protagonista, uma menina que estĆ” ligada nos 220 enquanto digita, ouve mĆŗsica, fala pelo Skype e mais uma monte de outras coisas que pessoas normais se permitem fazer quando conectadas.
DaĆ vocĆŖ pensa: entĆ£o sĆ£o poucos os recursos existentes pra manter o espectador atento. Pois Ć©, atĆ© sĆ£o, mas os usados pela produĆ§Ć£o do filme sĆ£o inteligentes o bastante pra aproveitar cada oportunidade. A comeƧar pela conversa filmada pelo grupo de amigos. Por o papo em dia por Skype ou outros aplicativos Ć© comum e o filme ganha um ponto pela uniĆ£o de ficĆ§Ć£o e realidade. Com o passar do tempo, notamos que nem todos os personagens sĆ£o tĆ£o amigos assim. Cada um deles tem um podre, prestes a ser revelado. Vai dizer que na vida real Ć© diferente?
E cada podre sĆ³ vem Ć tona porque a vilĆ£, uma morta-viva que cometeu suicĆdio, volta pra atormenta-los. A aĆ§Ć£o acontece cada hora numa tela do chat e, claro, vamos ficando grudados em todas as abas pra saber o que vai acontecer. Mesmo com poucos artifĆcios, o filme funciona muito bem como suspense e terror, mantendo um clima meio claustrofĆ³bico atĆ© o final. Final que decepciona um pouco pela rapidez e facilidade com que a protagonista cai nas mĆ£os da tal vilĆ£ morta-viva. JĆ” era esperado, mas nĆ£o precisava ser tĆ£o rĆ”pido quanto um grito de susto.
E como muitas das coisas que vemos na internet, “Unfriended” Ć© legalzinho, rapidinho, dĆ” pra assistir conferindo o e-mail, jogando um Frozen no celular ou entre uma ligaĆ§Ć£o e outra do Skype. Prender a atenĆ§Ć£o hoje em dia tĆ” cada vez mais difĆcil. Ah, quem sabe a sequĆŖncia (sim, deve existir uma) tenha mais sorte.
“Belas e Perseguidas” Ć© o tĆpico filme da SessĆ£o da Tarde. O roteiro nĆ£o traz novidades, com a mesma premissa de quase todas as comĆ©dias de perseguiĆ§Ć£o. Um policial, um fugitivo, os dois precisam evadir de alguma situaĆ§Ć£o problemĆ”tica. Juntos, renderĆ£o cenas absurdas que prometem arrancar risadas do pĆŗblico. Sim, Ć© isso que existe do comeƧo ao fim de “Belas e Perseguidas”. NĆ£o estamos falando de filmes profundos, que geram reflexĆ£o, que rendem prĆŖmios. Ć mais um pastelĆ£o, bom pra passar o tempo.
Com as cartas na mesa, fica fĆ”cil entender porque Anne Fletcher (“Vestida pra Casar”, “A Proposta”) foi escolhida pra dirigir o filme. Aqui ela repete mais do mesmo. NĆ£o hĆ” diferenciais estĆ©ticos, de trilha, de direĆ§Ć£o. Mudam os atores, um pouco do roteiro e, voilĆ .
Com situaƧƵes conhecidas e o desfecho tambĆ©m, a variaĆ§Ć£o de atores Ć© o que representa o grande diferencial do filme, certo? CertĆssimo. Talvez esse seja o Ćŗnico ponto positivo do longa, que conseguiu unir a queridinha Reese Witherspoon e a naturalmente engraƧada Sofia Vergara. Reese Ć© a policial que precisa escoltar a personagem da Sofia, uma mulher de traficante, atĆ© o tribunal. No caminho, confusĆ£o, tiroteio, reviravoltas e muitas piadas apoiadas na diferenƧa entre a americana do interior e a colombiana voluptuosa.
Obviamente isso nĆ£o salva o filme ou transforma o longa na melhor comĆ©dia do ano. Cenas como a do Ć“nibus, em que Reese tenta falar Espanhol, Ć© muito divertida, mas bastante clichĆŖ. Sofia Ć© linda, engraƧada, mas repete o mesmo do que jĆ” vimos dela atĆ© aqui. O resultado Ć© um filme de muitos “mas”. Seria melhor ver um empenho extra pra que o longa fosse realmente bacana, sem se apoiar apenas nos nomes famosos e na quĆmica entre as personagens. QuĆmica, aliĆ”s, que nem Ć© tĆ£o grande assim. “Belas e Perseguidas” Ć© despretensioso atĆ© demais.
Bryan Adams: cantor, compositor,
ativista, muitos prĆŖmios e uma trajetĆ³ria de altos e baixos na carreira.
Melanie C: cantora, compositora e Sporty Spice. A junĆ§Ć£o de dois artistas entĆ£o
considerados tĆ£o distintos resultou num dos duetos mais legais dos anos 90. When You're Gone foi um sucesso nas
paradas da Europa e Oceania e abre espaƧo para que os dois cantores tenham
destaque, sem que um tire o brilho do outro.
Melanie e Bryan continuam na
ativa, com sucesso moderado em alguns paĆses. Os fĆ£s mais chatos do cantor
canadense torcem o nariz pra parceria. A
verdade Ć© que o timbre e o vocal potente da Spice Girl mais talentosa,
musicalmente falando, tornam o som ainda mais especial. A melodia e o
instrumental dĆ£o o toque pra que a mĆŗsica, lanƧada hĆ” 17 anos, soe tĆ£o atual. Pra
ouvir, sem qualquer culpa.
Ć incontĆ”vel o nĆŗmero de filmes de terror com crianƧas. A figura angelical surge no gĆŖnero como ser ameaƧador. Se vier em dose dupla, em forma de gĆŖmeos, o impacto Ć© ainda maior. E sĆ£o dois garotinhos que provocam e instigam o espectador durante as mais de uma hora e meia de “Goodnight Mommy”, filme austrĆaco que vem ganhando elogios em festivais ao redor do mundo.
Os irmĆ£os (Lukas e Elias Schwars) vivem no interior. A casa Ć© moderna, cheia de vidros, num contraponto ao lugar rĆŗstico e isolado. No comeƧo do filme, percebemos que as crianƧas brincam e rodam pelo local sem nenhuma presenƧa adulta. AtĆ© que a mĆ£e deles chega.
Toda enfaixada, o enredo deixa no ar que a mĆ£e (Susanne Wuest) realizou uma sĆ©rie de cirurgias plĆ”sticas. As ataduras dĆ£o um toque de mistĆ©rio e bizarrice. AlĆ©m disso, as atitudes dela fazem com que os prĆ³prios filhos duvidem se aquela Ć© mesmo a matriarca. O que segue Ć© uma sucessĆ£o de cenas esquisitas e angustiantes. E o filme que Ć© vendido como terror de ‘pular da cadeira’ se torna um suspense com cores de drama.
“Goodnight Mommy” nĆ£o decepciona. Algumas cenas atĆ© podem ser arrastadas, mas de modo geral a produĆ§Ć£o tem um ar bastante sombrio e, de certa forma, triste. As situaƧƵes criadas pelo enredo tornam as crianƧas assustadoras e nem Ć© preciso chegar atĆ© o fim do longa pra saber o motivo. NĆ£o existem segredos. Os mais atentos logo entenderĆ£o o que acontece numa sugestĆ£o nem tĆ£o sutil oferecida pela direĆ§Ć£o de Severin Fiala e Veronika Franz. Mesmo assim, sĆ£o muitas as teorias que podem ser criadas ao longo da histĆ³ria. A violĆŖncia entre mĆ£e e filhos Ć© real? Ela teria feito alguma plĆ”stica ou isso Ć© simbolismo das marcas deixadas por alguma tragĆ©dia?
HipĆ³teses nĆ£o faltam e essas indagaƧƵes tornam “Goodnight Mommy” muito mais interessante, ao contrĆ”rio de muitos “jump scare”. Porque nem todo suspense Ć© feito sĆ³ de trilhas altas, sangue e espaƧos escuros.
NĆ£o vivemos sem internet. Ć praticamente impossĆvel estar alheio ao mundo digital. Ć o lugar em que dividimos tudo, exploramos o mundo, somos espectadores e tambĆ©m vigiados. “Invasores - Nenhum sistema estĆ” salvo” fala sobre o tema e surpreende como produto final.
O filme alemĆ£o mostra a histĆ³ria de Benjamin (Tom Schilling), nerd que vive invisĆvel, sem ser notado. Numa tentativa de se encaixar na sociedade, ele explora o mundo online e se junta a um grupo de hackers. O objetivo da turma Ć© fazer justiƧa atravĆ©s de falcatruas virtuais, expondo pessoas e empresas que atuam de forma ilegal ou vista por eles como injusta. Mas a vida no computador acaba gerando transtornos na vida real e qualquer informaĆ§Ć£o a mais pode ser um spoiler.
O que posso garantir Ć© que “Invasores - Nenhum sistema estĆ” salvo” foi uma grande e Ć³tima surpresa. A qualidade do filme Ć© vista no roteiro, nas atuaƧƵes, na direĆ§Ć£o de Baran bo Odar (“The Silence”), em todo o produto. A histĆ³ria consegue prender o espectador e utiliza artifĆcios certeiros pra isso. A narraĆ§Ć£o de algumas cenas Ć© pontual e nos coloca a par do que estĆ” acontecendo, sem ser deslocada ou chata. Os flashbacks completam as peƧas do grande quebra-cabeƧa e as reviravoltas, tĆ£o comuns nos thrillers, fazem o trabalho de encaixar todas elas.
Ć base de ritalina, o protagonista se torna um herĆ³i Ć s avessas. As cenas da realidade virtual, com pessoas mascaradas dentro de um trem, Ć© outro grande trunfo do longa, que se mostra um amontoado de ideais muito bem realizadas. O final mirabolante, com todas as surpresas inimaginĆ”veis, Ć© apenas a cereja do bolo. O sucesso na Alemanha vai render o lanƧamento de uma versĆ£o hollywoodiana do filme. EntĆ£o vale buscar o original e embarcar na histĆ³ria. NĆ£o Ć© exagero! “Invasores - Nenhum sistema estĆ” salvo” Ć© imperdĆvel.