É sempre difícil falar sobre
Harmony Korine. O diretor tem em sua biografia obras polêmicas e que retratam e
criticam a juventude norte-americana. Quem já assistiu Kids (1995) ou Ken Park
(2002) sabe que Harmony não tem pudores em mostrar o universo jovem através de cenas
explícitas de sexo, violência e fluidos pra todos os lados. Filmes complicados
de serem digeridos, mas que mostram com uma realidade impactante o mundo
contemporâneo e a difícil fase entre ser adolescente e adulto.
Ainda não sei se Spring Breakers,
mais recente lançamento de Harmony, é uma obra-prima, uma loucura dispensável
ou uma viagem lunática pela cultura norte-americana. Só sei que o filme não te
deixa indiferente e isso já é motivo suficiente pra que você o assista, certo? O
cenário principal é a Flórida e a famosa festa de Spring Break (semana de
recesso escolar lá nos EUA), regada a muita cerveja, drogas e sexo.
As amigas Faith (Selena Gomez),
Candy (Vanessa Hudgens), Brit (Ashley Benson) e Cotty (Rachel Korine) querem
participar da festa, mas não tem dinheiro. Três delas resolvem assaltar uma
lanchonete pra bancar a viagem e depois, uma sucessão de erros compromete
o que seria o feriado perfeito do quarteto.
De modo inteligente, o diretor,
que é pouco conhecido do grande público, decidiu escalar três atrizes/cantoras
queridinhas do público teen. Ter a atual/ex/atual/não se sabe do Justin Bieber,
uma ex-High School Musical e a loirinha queridinha da série Pretty Little Liars
num filme sobre drogas, sexo e violência gerou tanto falatório que a publicidade
do longa estava pronta antes mesmo do lançamento. E mesmo que o filme seja para
maiores de 18 anos, a curiosidade dos menores tornaria o filme um sucesso, pelo
menos nas redes sociais.
E sim, a escalação dessas
estrelas foi bem feita e vai bem com a proposta do filme. Porém, pra quem já assistiu
as outras produções de Harmony, uma Selena Gomez fumando não é nada chocante. Talvez
a surpresa fique por conta de James Franco, que interpreta um traficante e
aspirante a rapper. Mesmo sabendo que o
carismo do ator é maior que o talento, a atuação em Spring Breakers é bacana e
convincente.
A edição é desfragmentada, horas estamos
no presente, depois temos fragmentos do passado ou visões do futuro. Tudo muito
bem construído com uma trilha sonora perfeita para o filme. Se você curte Skrillex
e música eletrônica, fique à vontade. A fotografia revela o espírito dos
personagens. Quando duas das meninas resolvem voltar pra casa, descontentes com
as loucuras das festas, o mundo volta a ter cor, a vida delas parece que começa
a ter sentido. Até mesmo a tinta desbotada do cabelo de uma delas transmite o
cansaço físico e mental que ela passou durante os dias de Spring Break.
O final não me surpreendeu. Imaginava
algo do tipo e até esperava por um desfecho ainda mais trágico. Ficou uma
sensação de ressaca. Ainda estou procurando algum sentido pra que o filme fosse
feito. Fica clara a intenção de criticar os excessos e o modo de vida que
muitos jovens vêm levando. Mas diferente dos outros filmes do diretor, acho que
faltou uma exploração maior dos personagens. A conexão entre espectador e as
meninas tende a ser tão rasa quanto a que um fã tem de uma estrela da Disney. E
é justamente o personagem de Selena Gomez o único bem trabalhado, em que somos
levados a acreditar que ali existe uma menina boa, religiosa e que quer
aproveitar a juventude.
De qualquer modo, vale conferir o
filme. Seja pra conhecer um pouco mais do trabalho do diretor ou pra matar a
curiosidade e assistir as meninas da Disney fumando, falando palavrão e fazendo
sexo. Mesmo que algumas delas já tenham sido expostas fazendo isso em vídeos ou
fotos íntimas na internet.
Curti: A cena em que o personagem de James Franco canta Everytime,
de Britney Spears. Tinha tudo pra ficar muito tosco, mas a edição deixou a cena
divertida. Não vou dizer emocionante porque é pedir demais de meu intelecto
levar essa cena a sério.
Não curti: Faltou trabalhar melhor os personagens Candy (Vanessa
Hudgens), Brit (Ashley Benson) e Cotty (Rachel Korine). Elas são parecidas, tendem
a levar uma vida desregrada e baseada na diversão. O único contraponto ali é o
personagem Faith, da Selena Gomez. Aliás, Selena até convence, mas alguma fono
precisa trabalhar o tom de voz da menina.
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