Spring Breakers

Uma primavera às avessas

15:34Guilherme Correa

É sempre difícil falar sobre Harmony Korine. O diretor tem em sua biografia obras polêmicas e que retratam e criticam a juventude norte-americana. Quem já assistiu Kids (1995) ou Ken Park (2002) sabe que Harmony não tem pudores em mostrar o universo jovem através de cenas explícitas de sexo, violência e fluidos pra todos os lados. Filmes complicados de serem digeridos, mas que mostram com uma realidade impactante o mundo contemporâneo e a difícil fase entre ser adolescente e adulto.

Ainda não sei se Spring Breakers, mais recente lançamento de Harmony, é uma obra-prima, uma loucura dispensável ou uma viagem lunática pela cultura norte-americana. Só sei que o filme não te deixa indiferente e isso já é motivo suficiente pra que você o assista, certo? O cenário principal é a Flórida e a famosa festa de Spring Break (semana de recesso escolar lá nos EUA), regada a muita cerveja, drogas e sexo.


As amigas Faith (Selena Gomez), Candy (Vanessa Hudgens), Brit (Ashley Benson) e Cotty (Rachel Korine) querem participar da festa, mas não tem dinheiro. Três delas resolvem assaltar uma lanchonete pra bancar a viagem e depois, uma sucessão de erros compromete o que seria o feriado perfeito do quarteto.

De modo inteligente, o diretor, que é pouco conhecido do grande público, decidiu escalar três atrizes/cantoras queridinhas do público teen. Ter a atual/ex/atual/não se sabe do Justin Bieber, uma ex-High School Musical e a loirinha queridinha da série Pretty Little Liars num filme sobre drogas, sexo e violência gerou tanto falatório que a publicidade do longa estava pronta antes mesmo do lançamento. E mesmo que o filme seja para maiores de 18 anos, a curiosidade dos menores tornaria o filme um sucesso, pelo menos nas redes sociais.

E sim, a escalação dessas estrelas foi bem feita e vai bem com a proposta do filme. Porém, pra quem já assistiu as outras produções de Harmony, uma Selena Gomez fumando não é nada chocante. Talvez a surpresa fique por conta de James Franco, que interpreta um traficante e aspirante a rapper.  Mesmo sabendo que o carismo do ator é maior que o talento, a atuação em Spring Breakers é bacana e convincente.

A edição é desfragmentada, horas estamos no presente, depois temos fragmentos do passado ou visões do futuro. Tudo muito bem construído com uma trilha sonora perfeita para o filme. Se você curte Skrillex e música eletrônica, fique à vontade. A fotografia revela o espírito dos personagens. Quando duas das meninas resolvem voltar pra casa, descontentes com as loucuras das festas, o mundo volta a ter cor, a vida delas parece que começa a ter sentido. Até mesmo a tinta desbotada do cabelo de uma delas transmite o cansaço físico e mental que ela passou durante os dias de Spring Break.

O final não me surpreendeu. Imaginava algo do tipo e até esperava por um desfecho ainda mais trágico. Ficou uma sensação de ressaca. Ainda estou procurando algum sentido pra que o filme fosse feito. Fica clara a intenção de criticar os excessos e o modo de vida que muitos jovens vêm levando. Mas diferente dos outros filmes do diretor, acho que faltou uma exploração maior dos personagens. A conexão entre espectador e as meninas tende a ser tão rasa quanto a que um fã tem de uma estrela da Disney. E é justamente o personagem de Selena Gomez o único bem trabalhado, em que somos levados a acreditar que ali existe uma menina boa, religiosa e que quer aproveitar a juventude.

De qualquer modo, vale conferir o filme. Seja pra conhecer um pouco mais do trabalho do diretor ou pra matar a curiosidade e assistir as meninas da Disney fumando, falando palavrão e fazendo sexo. Mesmo que algumas delas já tenham sido expostas fazendo isso em vídeos ou fotos íntimas na internet.


Curti: A cena em que o personagem de James Franco canta Everytime, de Britney Spears. Tinha tudo pra ficar muito tosco, mas a edição deixou a cena divertida. Não vou dizer emocionante porque é pedir demais de meu intelecto levar essa cena a sério. 

Não curti: Faltou trabalhar melhor os personagens Candy (Vanessa Hudgens), Brit (Ashley Benson) e Cotty (Rachel Korine). Elas são parecidas, tendem a levar uma vida desregrada e baseada na diversão. O único contraponto ali é o personagem Faith, da Selena Gomez. Aliás, Selena até convence, mas alguma fono precisa trabalhar o tom de voz da menina. 

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